O FAROLETRAS
sexta-feira, 15 de março de 2024
segunda-feira, 4 de março de 2024
quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
ENIGMAS - 1º Semestre
Ao longo do ano letivo e no âmbito do PAA, a Biblioteca Escolar está a promover a atividade “Enigmas”. Com esta atividade pretende-se promover tradições e temáticas, sensibilizar para a importância e o prazer da leitura, fomentar o espírito de observação e de curiosidade, assim como promover leituras diversificadas.
De entre todos os alunos que participaram ao longo do 1º semestre, estão de parabéns as alunas que se destacaram:
1º Lugar
6º A – nº 4 – Beatriz Delgado
2º Lugar
6º A – nº 7 - Carlota Ferreira
3º Lugar
6º C – nº 3 – Carolina Franco
7º A – nº 9 – Isa Santos
Parabéns a todos os participantes!
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
PROPOSTA DE LEITURA - FEVEREIRO
Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel
Barreno
Três Marias, uma obra:
As Novas Cartas Portuguesas, marcaram
o declínio do Estado Novo em Portugal, tendo sido lançadas em 1972.
A revelação de muitas das situações discriminatórias e lesivas para a mulher em Portugal deu um passo inaugural numa caminhada que tem sido feita até aos dias de hoje, naquilo que é a igualdade de género nas diversas circunstâncias sociais, culturais, laborais e económicas. São três rostos providenciais na construção de um estado crescentemente equitativo, no qual os desafios vão surgindo quotidianamente, em paralelo com a evolução da sociedade na globalidade.
Maria de Fátima de Bivar Velho da Costa nasceu a 26 de junho de
1938, na cidade de Lisboa. A sua infância cruzou a vivência no quartel militar
com a educação num colégio de freiras, no Convento das Escravas do Sagrado
Coração de Jesus, onde começou a escrever textos que eram elogiados pelas
próprias irmãs da instituição. Desencantou-se com os números, encantou-se
por Camões, licenciou-se em
Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa.
A sua escrita reflete o seu
inconformismo perante a situação das mulheres no Estado Novo.
Maria Isabel Barreno de Faria
Martins nasceu a 10 de julho de 1939, também em Lisboa. Os seus precoces
hábitos de leitura, complementados pela poesia, seriam fomentados no Colégio do
Sagrado Coração de Maria de Lisboa. Daqui, saiu diretamente para a Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, licenciando-se em Ciências
Histórico-Filosóficas. Após licenciar-se, passou a trabalhar no Instituto de
Investigação Industrial. Em 1970, escreveu “A Morte da Mãe”, que seria
publicado nove anos depois, dando o mote para a composição das Novas Cartas.
As três
conhecer-se-iam nas diferentes organizações que compunham o movimento feminista
português, contrárias às instituições que existiam no seio da estrutura
salazarista, que assumiam a condição feminina amorfa. A condição subserviente
da mulher, como uma sombra do seu marido, foi identificada como o motor de
arranque de um grupo que se propunha a despertá-la para que se tornasse
autónoma, firme, independente.
Assim,
em abril de 1972, a partir dos Estúdios
Cor, onde estava a poetisa Natália Correia, chega Novas Cartas Portuguesas às mãos daqueles que assumiam interesse
pela subversão do regime, para além dos que pensavam criticamente a sociedade
nacional e internacional. Os tradicionalismos foram desconstruídos e
criticados, essencialmente no que respeita aos valores feminismos da época,
essencialmente passivos e domésticos. O registo provocatório e incendiário
levou as três autoras a depor em tribunal, mesmo com a abertura do período de
governação de Marcelo Caetano (Primavera
Marcelista), respondendo pelas sanções que lhes seriam imputadas (nas quais
se discutia a própria prisão) e que só seriam levantadas com o alvor do 25 de
abril. A obra foi censurada três dias após o seu lançamento, embora a
comunicação social ampliasse o mediatismo deste trabalho.
A
importância desta obra fez-se sentir na revelação de situações discriminatórias
associadas à repressão do regime, ao patriarcado com base católica e à condição
da mulher, tanto no seu papel matrimonial, como nos constrangimentos impostos
por via da natalidade, que se estendiam à sua sexualidade. A violência
doméstica, a subjugação a uma moralidade patriarcal e burguesa, os casos que se
sucediam de incesto, de aborto, de pobreza e de censura adquiriram uma voz, um
discurso direto que, por mais fragmentado que fosse, se ampliou na sua
repercussão.
O
processo que encaminhou a obra para a justiça contou com a defesa dos advogados
Duarte Vidal, Francisco Sousa Tavares e José Armando da Silva Ferreira. Foi
este o corpo de legistas que obstou à acusação de “textos imorais”, nos quais
se retratavam mulheres livres e autónomas, que questionavam o seu papel na
sociedade, para além de aceder ao que de novo se pensava e se propunha sobre
esta e o papel da religião. A procura desta igualdade, repleta, à data, de
inúmeros paradoxos, muitos deles perpetuados pelo regime, acabou por não ser
refutada pela suspensão do processo, que conheceu uma repercussão à escala
internacional.
Figuras ligadas ao feminismo e à
literatura mundiais, como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Doris Lessing,
Iris Murdoch ou Stephen Spender, lideraram uma campanha de solidariedade para
com as ‘Três Marias’.
Foram regulares os protestos e as
manifestações (nomeadamente junto das embaixadas de Portugal no estrangeiro) em
defesa das autoras das Novas Cartas Portuguesas, ampliados pela cobertura de
prestigiados meios de comunicação internacionais.
Esta
igualdade permaneceu, assim, como uma causa que perdura até à atualidade, que
fez com que as mulheres se emancipassem no seu discurso e ação, tornando-se
livres na discussão dos mecanismos do seu corpo, para além das fontes de prazer
e de sofrimento da sua vida. A voz da mulher na sociedade portuguesa é, assim,
repensada e reapresentada, o que causa um grande choque numa população ainda
muito vinculada aos preceitos católicos e tradicionais, que Salazar quis e
soube perpetuar.
No
pós-25 de Abril, a Constituição seria revista, o Código Civil reformulado, as
demais instâncias da Justiça readaptadas, e todas as mulheres cidadãs plenas
nos seus direitos e deveres, em pé de igualdade com os homens.
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