quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ENIGMAS - 1º Semestre


Ao longo do ano letivo e no âmbito do PAA, a Biblioteca Escolar está a promover a atividade “Enigmas”. Com esta atividade pretende-se promover tradições e temáticas, sensibilizar para a importância e o prazer da leitura, fomentar o espírito de observação e de curiosidade, assim como promover leituras diversificadas. 

De entre todos os alunos que participaram ao longo do 1º semestre, estão de parabéns as alunas que se destacaram:

1º Lugar

6º A – nº 4 – Beatriz Delgado

2º Lugar

6º A – nº 7 - Carlota Ferreira

3º Lugar

6º C – nº 3 – Carolina Franco 

7º A – nº 9 – Isa Santos

Parabéns a todos os participantes!




quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

PROPOSTA DE LEITURA - FEVEREIRO

 

 

Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno

 

Três Marias, uma obra: As Novas Cartas Portuguesas, marcaram o declínio do Estado Novo em Portugal, tendo sido lançadas em 1972.

A revelação de muitas das situações discriminatórias e lesivas para a mulher em Portugal deu um passo inaugural numa caminhada que tem sido feita até aos dias de hoje, naquilo que é a igualdade de género nas diversas circunstâncias sociais, culturais, laborais e económicas. São três rostos providenciais na construção de um estado crescentemente equitativo, no qual os desafios vão surgindo quotidianamente, em paralelo com a evolução da sociedade na globalidade.


         Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros foi a primeira a nascer, do trio de autoras da célebre obra feminista, no dia 20 de maio de 1937, na capital portuguesa, Lisboa. De origens aristocráticas (a Marquesa de Alorna, poeta portuguesa, faz parte dos seus antepassados maternais), passou pelo Liceu D. Filipa de Lencastre, chegando à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde cursou jornalismo. A expressão em liberdade era bastante condicionada, especialmente com os mecanismos de censura e com a forte supervisão da PIDE, pelo que se sentia constrangida.

Maria de Fátima de Bivar Velho da Costa nasceu a 26 de junho de 1938, na cidade de Lisboa. A sua infância cruzou a vivência no quartel militar com a educação num colégio de freiras, no Convento das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, onde começou a escrever textos que eram elogiados pelas próprias irmãs da instituição. Desencantou-se com os números, encantou-se por Camões, licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa.

A sua escrita reflete o seu inconformismo perante a situação das mulheres no Estado Novo.

Maria Isabel Barreno de Faria Martins nasceu a 10 de julho de 1939, também em Lisboa. Os seus precoces hábitos de leitura, complementados pela poesia, seriam fomentados no Colégio do Sagrado Coração de Maria de Lisboa. Daqui, saiu diretamente para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciando-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Após licenciar-se, passou a trabalhar no Instituto de Investigação Industrial. Em 1970, escreveu “A Morte da Mãe”, que seria publicado nove anos depois, dando o mote para a composição das Novas Cartas.

As três conhecer-se-iam nas diferentes organizações que compunham o movimento feminista português, contrárias às instituições que existiam no seio da estrutura salazarista, que assumiam a condição feminina amorfa. A condição subserviente da mulher, como uma sombra do seu marido, foi identificada como o motor de arranque de um grupo que se propunha a despertá-la para que se tornasse autónoma, firme, independente.

Assim, em abril de 1972, a partir dos Estúdios Cor, onde estava a poetisa Natália Correia, chega Novas Cartas Portuguesas às mãos daqueles que assumiam interesse pela subversão do regime, para além dos que pensavam criticamente a sociedade nacional e internacional. Os tradicionalismos foram desconstruídos e criticados, essencialmente no que respeita aos valores feminismos da época, essencialmente passivos e domésticos. O registo provocatório e incendiário levou as três autoras a depor em tribunal, mesmo com a abertura do período de governação de Marcelo Caetano (Primavera Marcelista), respondendo pelas sanções que lhes seriam imputadas (nas quais se discutia a própria prisão) e que só seriam levantadas com o alvor do 25 de abril. A obra foi censurada três dias após o seu lançamento, embora a comunicação social ampliasse o mediatismo deste trabalho.

A importância desta obra fez-se sentir na revelação de situações discriminatórias associadas à repressão do regime, ao patriarcado com base católica e à condição da mulher, tanto no seu papel matrimonial, como nos constrangimentos impostos por via da natalidade, que se estendiam à sua sexualidade. A violência doméstica, a subjugação a uma moralidade patriarcal e burguesa, os casos que se sucediam de incesto, de aborto, de pobreza e de censura adquiriram uma voz, um discurso direto que, por mais fragmentado que fosse, se ampliou na sua repercussão.

O processo que encaminhou a obra para a justiça contou com a defesa dos advogados Duarte Vidal, Francisco Sousa Tavares e José Armando da Silva Ferreira. Foi este o corpo de legistas que obstou à acusação de “textos imorais”, nos quais se retratavam mulheres livres e autónomas, que questionavam o seu papel na sociedade, para além de aceder ao que de novo se pensava e se propunha sobre esta e o papel da religião. A procura desta igualdade, repleta, à data, de inúmeros paradoxos, muitos deles perpetuados pelo regime, acabou por não ser refutada pela suspensão do processo, que conheceu uma repercussão à escala internacional.

Figuras ligadas ao feminismo e à literatura mundiais, como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch ou Stephen Spender, lideraram uma campanha de solidariedade para com as ‘Três Marias’. 

Foram regulares os protestos e as manifestações (nomeadamente junto das embaixadas de Portugal no estrangeiro) em defesa das autoras das Novas Cartas Portuguesas, ampliados pela cobertura de prestigiados meios de comunicação internacionais.

Esta igualdade permaneceu, assim, como uma causa que perdura até à atualidade, que fez com que as mulheres se emancipassem no seu discurso e ação, tornando-se livres na discussão dos mecanismos do seu corpo, para além das fontes de prazer e de sofrimento da sua vida. A voz da mulher na sociedade portuguesa é, assim, repensada e reapresentada, o que causa um grande choque numa população ainda muito vinculada aos preceitos católicos e tradicionais, que Salazar quis e soube perpetuar.

No pós-25 de Abril, a Constituição seria revista, o Código Civil reformulado, as demais instâncias da Justiça readaptadas, e todas as mulheres cidadãs plenas nos seus direitos e deveres, em pé de igualdade com os homens.

 

 

 

Webgrafia:

https://comunidadeculturaearte.com/as-tres-marias-o-antes-o-depois-e-o-impacto-das-novas-cartas-portuguesas/

 

 

 Recolha e organização: Maria Isabel Pereira